quinta-feira, 17 de maio de 2012

O naufragio

                                                                O naufragio

O Titanic saiu de Belfast para Nova York mas no caminho colidiu com um iceberg. O nvio conciderado "inafundavel" depois de cinco dias estava se enchendo de água.
As 11H 40 min Fleet divisa subitamente alguma coisa à frente.Era pequena (o tamanho lhe pareceu de aproximadamente duas mesas juntas ) mas de instante em instante ficava maior e mais próxima. Tocou prontamente o sino de alarme, tirou o fone do gancho e ligou para a ponte.
-O que foi que você viu? - Perguntou uma voz calma do outro lado da linha.
-Um iceberg bem à proa - respondeu Fleet.
-Obrigado - murmurou cortesmente a voz.
Durante os 37 segundos seguintes Fleet viu o iceberg se aproximar. Estavam quase em cima dele e o navio ainda não havia mudado de rumo. O iceberg, de uns 30 metros de altura, erguia-se úmido do castelo de proa. Fleet segurou-se ante a eminência de uma colisão. Mas, milagrosamente, a proa começou a guinar para bombordo. No último segundo, o navio aproou para o espaço livre e o iceberg deslizou por estibordo. Fleet teve a impressão de que haviam escapado por pouco. No salão de jantar da primeira classe, ouve a impressão de um leve ruído rascante vindo de algum ponto bem no fundo do navio.
No alto da ponte de comando, o Primeiro Oficial William Murdoch havia levado a manivela da casa de máquinas para a posição “Pare”.
Murdoch estava no comando da ponte e competia-lhe tomar providência, dado que Fleet dera o aviso por telefone. Agira com rapidez, mas era muito tarde.
Quando o barulho da colisão se extinguiu, o Capitão Edward Smith, comandante do navio, correu de seu camarote para a ponte.
-Que foi isso, Sr. Murdoch?
-Um iceberg, comandante. Virei para bombordo, inverti a marcha das máquinas, mas estava muito perto. Não pude fazer mais.

-Feche as portas de emergência.
-Já estão fechadas comandante.
Estavam realmente fechadas. Em baixo, na casa das caldeiras Nº 6, o foguista Fred Barret falava com o segundo maquinista-assistente quando se acendeu a luz vermelha de emergência.
De repente, houve um barulho ensurdecedor e todo o estibordo do navio pareceu despedaçar-se. Enquanto o mar entrava em catadupas, cachoando em torno dos canos e das válvulas, os dois homens pularam para a saída e a porta de emergência desceu atrás deles como um machado.
Nas casas das caldeiras mais à proa, os homens abalados pelo choque, gritavam uns para os outros querendo saber o que havia acontecido. Espalhou-se a notícia de que o Titanic havia encalhado nos Bancos da Terra Nova. Muitos ainda pensavam assim, mesmo depois que um encarregado da carga apareceu descendo as escadas gritando:
-Epa! Batemos num iceberg!
Depois de 11:30alguns dos passageiros se vestiram e subiram para o convés. O Titanic estava parado no meio do mar, enquanto três de suas quatro enormes chaminés expeliam vapor com uma zoada que perturbava a noite tranqüila. Afora isso, tudo era normal. Quando a notícia do acidente se espalhou, ninguém ficou alarmado.
-Sabe o que foi? – perguntou Harry Collyer à sua esposa, quando voltou ao camarote.
-Batemos num iceberg, mas não há perigo. Um oficial me disse.
A Srª Collyer perguntou ao marido se havia alguém amedrontado. Quando soube que não, tornou a deitar-se.
O casal Dickinson Bishop também não se perturbou. Quando um comissário de convés lhes assegurou que tinham apenas batido num pedacinho de gelo que já ficara para trás, os Bishops voltaram ao seu camarote e trocaram novamente a roupa.
 No alto da ponte, o Comandante Smith procurava juntar todos os fragmentos do quadro. Ninguém podia estar mais habilitado para isso do que ele. Depois de 38 anos de serviço na White Star Line, ele não era apenas o comandante mais antigo da companhia, mas um patriarca barbado que tanto os tripulantes quanto os passageiros adoravam. Aquela ia ser a sua última viagem.
Smith voltou-se para o Quarto Oficial Joseph Groves Boxhall e disse-lhe:
-Procure o carpinteiro e mande-o sondar o navio.
Boxhall acabava de descer as escadas da ponte de comando, esbarrou-se com J. Hutchinson, o carpinteiro, que já ia subindo às carreiras. Hutchinson, ao passar por ele, exclamou ofegante:
-O navio está fazendo água muito depressa.
 Logo depois chegou Bruce Ismay. Vestira um terno por cima do pijama e subira à ponte para perguntar se estava acontecendo alguma coisa que o presidente da companhia devesse saber. O Comandante Smith deu-lhe a notícia do iceberg.
-Acha que o navio está seriamente danificado? _ perguntou Ismay.
Houve uma pausa e afinal o comandante respondeu em voz lenta:
-Creio que sim.
Não tardaria que soubessem com certeza. Haviam mandado chamar Thomas Andrews, construtor do Titanic, que fazia a viagem com o intuito de corrigir quaisquer defeitos que surgissem. Se alguém podia avaliar a situação, era ele.
Daí a pouco, Andrews e o comandante iniciavam a sua inspeção, descendo pela escada reservada à tripulação para não chamarem atenção... Pelo labirinto dos corredores bem abaixo...beirando a água escachoava pela quadra de squash-ball, onde o mar agora batia de encontro a tabela.
Voltando para a ponte, passaram pelo salão do Convés A, lotado de passageiros. Todo mundo observou a fisionomia dos dois homens, para saber se as notícias eram boas ou más. Ninguém pode perceber nada.
Enquanto isso, no Convés A, o Major Arthur Peuchen notou um fato curioso. Enquanto olhava os passageiros que se divertiam com o gelo, sentiu uma leve inclinação no convés.
-O navio está adernando! – exclamou ele para um companheiro.
-Mas não é possível! O mar está perfeitamente calmo e o navio parou.
-Ninguém pode afundar este navio – replicou placidamente o outro homem.
Houve mais pessoas que sentiram a inclinação para a proa, mas parecia indiscrição falar nisso. Entretanto, na ponte de comando, os instrumentos mostravam que o Titanic estava um pouco inclinado para a proa e adernando cinco graus para estibordo.
Perto dali, Andrews e o Comandante Smith faziam os cálculos. Água no porão de proa... No porão Nº 1... no porão Nº 2...no correio...na casa de caldeiras Nº 6. Somando tudo, os fatos mostravam que havia um rombo de 90 metros, com os primeiros cinco compartimentos irremediavelmente invadidos pela água. Que queria dizer isso? Andrews explicou calmamente. O Titanic podia flutuar com três dos quatro compartimentos inundados. Poderia flutuar até com os quatro compartimentos perdidos. Mas fosse qual fosse à maneira como se raciocinasse, ele não poderia flutuar com os cinco compartimentos cheios de água. A divisão entre o quinto compartimento e o sexto só ia até o convés E. Se os primeiros cinco compartimentos fossem inundados, a proa desceria tanto que a água do primeiro compartimento transbordaria para o sexto. Quando este estivesse cheio, transbordaria para o sétimo e assim por diante. Era uma questão de certeza matemática. Não havia solução.
Há 00:05 o Comandante Smith deu ordem para que os botes fossem descobertos e os passageiros acordados e reunidos. Depois, desceu pelo convés dos botes para a cabine do radiotelegrafista.
O radiotelegrafista John Philips tivera um dia de muito trabalho. 
Em 1912 a radiotelegrafia ainda era uma novidade e os passageiros não podiam resistir à tentação de mandar mensagens frívolas para os amigos. Todo aquele domingo os radiotelegramas se haviam empilhado na cesta para serem transmitidos. Uma hora antes quando Philips conseguira afinal um bom contato com o Cabo Race, na Terra Nova o Californian interrompeu rudemente com um aviso sobre gelo. Falava de tão perto que quase explodiu nos ouvidos de Philips. Não era de admirar que ele houvesse respondido:
-Pare com isso que estou ocupado!
O Comandante Smith apareceu e disse:
-Batemos em um iceberg. Prepare-se para transmitir um pedido de socorro, mas não transmita enquanto eu não mandar.
Voltou daí alguns minutos e disse a Philips, entregando-lhe um pedaço de papel com a posição do Titanic:
-Transmita o pedido de socorro!
À meia noite e quinze, Philips começou a manipular as letras CQD – naquela época o sinal regulamentar de socorro – seguidas de MGY. O sinal de chamada do Titanic. O sinal foi repetidamente lançado dentro da noite.
Passava pouco da meia noite e quinze. No salão de fumar do Titanic o jogo de bridge estava de novo em plena animação, quando um oficial de bordo, apareceu à porta, dizendo:
-Cavalheiros, vistam os salva-vidas. Há uma anormalidade.
Em baixo, no alojamento da tripulação, o eletricista Samuel Hemming subiu para seu beliche, convencido de que o som sibilante que ouvira no convés de proa não tinha muita importância. Já estava quase pegando no sono quando o carpinteiro do navio se inclinou sobre o beliche dizendo:
"Se eu fosse você, me levantaria. O navio está fazendo água nos porões 1,2 e 3 e a quadra de squash está enchendo!". No camarote de primeira classe, a Srª Lucien Smith drmia. De repente, as luzes se acenderam e ela viu o marido de pé junto à cama, sorrindo. Informou sem pressa:
- Batemos em um iceberg. Isso não tem muita importância, mas por simples formalidade o comandante mandou que todas as mulheres e crianças fossem para o convés.
E assim se passavam as coisas. Não houve toques de sinetas, nem de sirenes nem alarme geral. Mas em todo o Titanic, desta ou daquela maneira, a ordem foi transmitida.
Naquele tempo um comissário num navio de luxo se encarregava apenas de oito a nove camarotes e era cheio de cuidados com seus passageiros.
No B 84, o comissário Harry Etches trabalhava como um alfaiate paciente, ajustando Benjamin Guggenheim, o rei da exploração de minas, ao seu salva-vidas. Guggenheim queria ir para o convés vestido como estava, mas Eatches o fez enfiar um grosso suéter antes de mandá-lo que o homem que estava lá dentro pudesse sair. Nesse momento, apareceu um comissário com ameaças de prender todo mundo quando o Titanic chegasse à Nova York para cima.
Era difícil decidir entre a piada e a seriedade. A porta de um camarote emperrou e alguns passageiros arrombaram para que o homem que estava lá dentro pudesse sair. Nesse momento apareceu um camareiro com ameaças de prender todo mundo quando o Titanic chegasse a New York pelos danos materiais causados à companhia.Aos poucos os passageiros foram se aprontando e subindo as escadas aos montes. Estavam vestidos da maneira mais disparatada. Por baixo do sobretudo, o jovem Jack Thayer vestia um terno de tweed com colete e ainda outro colete de pelo de cabra por baixo.
Robert Daniel, banqueiro da Filadélfia, estava apenas com um pijama de lã.
A multidão corria dentro da noite gelada. Cada classe conservava-se no seu convés próprio – a primeira classe no centro do navio, a segunda um pouco à ré e a terceira na proa ou no convés das bombas, perto da proa. Todos esperavam em silêncio as ordens seguintes, confiantes, mas vagamente preocupados.
Havia algumas piadas um pouco forçadas. Quando o Coronel Achibald Gracie viu Fred Wright, profissional de squash do Titanic, lembrou-se de que havia reservado a quadra para as sete e meia da manhã.
-Não é melhor cancelarmos aquela reserva? – perguntou Gracie.
-É sim – respondeu Wright sem entusiasmo. Ele sabia que a água já havia passado do teto da quadra de squash.
Enquanto os passageiros conversavam e esperavam, a tripulação se dirigiu prontamente para a coberta dos botes e começou a aprestar os 16 botes de madeira. Havia oito de cada lado. Os barcos de bombordo tinham números pares; os de estibordo, ímpares. Havia ainda quatro barcos dobráveis de lona, marcados com as letras A, B, C e D, que estavam apoiados sobre as cabines dos oficiais.
Havia 2.207 pessoas a bordo do Titanic naquela noite. Todos os botes do navio poderiam transportar apenas 1.178. Essa desproporção não era do conhecimento de nenhum dos passageiros e poucos tripulantes estavam a par disso; de qualquer maneira, porém, a maioria não teria dado a menor importância ao fato.
Por isso, os passageiros estavam no convés dos botes, calmos embora confusos. Não se fizera um só exercício de salvamento. Os passageiros não sabiam a que botes se dirigirem. Os tripulantes tinham sido escalados, mas poucos se deram ao trabalho de olhar a lista. Entretanto, eles pareciam adivinhar onde eram necessários e, um por um, os botes foram colocados em posição.
Com um pé no bote Nº 6 e outro no convés, Charles Lightoller chamou as mulheres e crianças. A reação nada teve de entusiástica. Por que trocar os iluminados conveses do Titanic por horas de escuridão dentro de um bote a remos? Até John Jacob Astor criticou a idéia, dizendo:
-Estamos em mais segurança aqui do que dentro daquele pequeno bote.
Quando a Srª White embarcou, uma pessoa amiga lhe disse:
-Quando voltar amanhã, vai ter que pagar passagem. Não se pode entrar novamente sem um passe.
A Srª Constance Willard se recusou terminantemente a embarcar no bote. Afinal, um oficial exasperado desistiu, exclamando:
-Não percam tempo. Se ela não quiser entrar, que fique!
Também havia música para acalmar os passageiros. O maestro da orquestra Wallace Hartley reunira os seus músicos e a orquestra tocava números variados. O aspecto do conjunto era um pouco estranho – alguns estavam com os casacos azuis do uniforme, outros de paletó branco – mas a música era estrepitosa e alegre.
A estibordo as coisas corriam com um pouco mais de rapidez. O Terceiro Oficial Herbert John Pitman, encarregado do Bote Nº 5, chamava:
_ Vamos, minhas senhoras!
E uma a uma elas subiam nos botes. Quando não havia mais mulheres e crianças que quisessem ir sozinhas, permitiu-se o embarque de alguns casais. Depois, embarcaram alguns homens sozinhos. A estibordo foi essa a regra durante toda a noite – primeiro mulheres e crianças – e os homens se ainda houvesse lugar.À ré, o Primeiro Oficial Murdoch estava encontrando dificuldade em lotar o seu bote. Afinal, embora houvesse apenas cerca de 20 pessoas a bordo, achou que não podia esperar mais. Aos 45 minutos depois da meia-noite deu sinal para arriarem o Nº 7 – o primeiro bote a baixar. Em seguida, o Nº 5 começou a descer rangendo. O presidente Bruce Ismay, da White Star Line, surgiu agitado; parecia for a de si.
_ Desçam! Desçam! _ repetia ele desvairado, agitando um dos braços, enquanto que com o outro se agarrava ao bote.
Enquanto isso, na cabine de telégrafo, Phillips estava recebendo as respostas de socorro. As notícias eram animadoras. O primeiro que respondeu foi o vapor Frankfort, da North Deutch Lloyd, que transmitiu um seco: “OK. Fique na escuta”, mas não comunicou a sua posição. Dentro em pouco, chegavam outras confirmações. A notícia da tragédia do Titanic se difundia cada vez mais. Navios que estavam fora de alcance recebiam a notícia dos mais próximos. O Cape Race ouviu a notícia diretamente e a transmitiu para terra No alto do Edifício Wanamaker, em New York, um jovem radiotelegrafista chamado David Sarnoff captou um sinal fraco e também o passou a diante. O mundo inteiro se levantou em atormentada expectativa. Entretanto, bem perto, o vapor Carpathia, da Cunad Line, navegava para o sul na mais completa ignorância do que estava acontecendo.
O gesto cortês do Carpathia foi cortado pela resposta de Philips: “Venha imediatamente. Batemos num iceberg. Isto é um CQD, meu velho. Posição 41, 46 N 50, 14 W.”
Depois de um instante de atônito silêncio, Cottam correu para dizer ao comandante. Após alguns minutos, transmitiu boas notícias: o Carpathia estava a apenas 58 milhas (107 km ) de distância e navegava a todo vapor. Enquanto Philips procurava apressar os navios mais próximos, o segundo radiotelegrafista Harold Bride teve uma idéia. CQD era o pedido de socorro tradicional, mas uma convenção internacional resolvera pouco antes usar de preferência as letras SOS, que eram mais fáceis de ser captadas pelo mais inexperiente amador.
_ Transmita um SOS – sugeriu Bride. – talvez seja sua última oportunidade de transmiti-lo. Philips riu e ligou o aparelho. À meia noite e 45 o Titanic expediu o primeiro SOS.
A inclinação do convés era mais acentuada e o tempo estava visivelmente se esgotando. Thomas Andrews, o construtor naval, corria de bote em bote, apressando as mulheres.
-É preciso embarcar quanto antes minhas senhoras. Não há um momento só a perder.
Os botes foram descidos sucessivamente e com presteza – o Nº 6, aos 55 minutos depois da meia noite; o Nº 3 a 1 hora da madrugada; o Nº 8 à 1h 10 min. Na ponte, o Quarto Oficial Boxhall soltava mais foguetes, mas não acreditava ainda no que estava acontecendo.
-Comandante – perguntou ele – a situação é mesmo grave?
-Disse-me o Sr. Andrews – respondeu Smith calmamente – que dá ao navio de uma hora à uma hora e meia.
No convés dos botes o ritmo do salvamento se tornara mais acelerado e... Mas desordenado.
Em seguida, fez sinal aos homens que manobravam os botes e eles baixaram o Nº 1, que tinha capacidade para 40 pessoas – com exatamente 12 pessoas a bordo. Em baixo, na terceira classe, estavam aqueles que não tiveram nem a oportunidade de perder o Nº 1. Um enxame de mulheres se agitava nos pés da escadaria principal da terceira classe no convés E. Bloqueados uns pelos outros, barulhentos e aflitos, ali estavam desde que os empregados de bordo os haviam feito levantar-se. À meia noite e trinta, chegou ordem de mandar as mulheres e as crianças para o convés dos botes. Não se podia esperar que acertassem sozinhos com o caminho por entre o labirinto de corredores que normalmente isolavam a terceira classe. Diante disso, o comissário John Hart resolveu guia-los, levando-os em grupos. Organizou um grupo e levou até ao bote Nº 8. Mas logo que fazia as pessoas entrarem elas pulavam fora e iam pra dentro, onde não fazia frio. Só houve tempo para guiar mais um grupo. Depois disso, Murdoch deu ordem a Hart de embarcar num bote. Muitos dos passageiros da terceira classe, com o acesso impedido ao resto do navio, estavam inteiramente entregues à sorte. Como uma coluna de formigas, uma pequena fila deles subiu por um guindaste no convés C de ré e rastejou pelo mastro do guindaste até a primeira classe, de onde, transpondo a amurada, passou para o convés dos botes. Outros batiam nas portas, exigindo que os deixassem passar.
Na ponte do Californian, o Segundo Oficial Herbert Stone contava os foguetes – seis até uma hora. À 1h 10 min, Stone comunicou o fato pelo tubo acústico ao Comandante Lord, que perguntou:
_ São sinais da companhia?
_ Não sei – respondeu Stone.- Parece que são foguetes brancos.
O Comandante recomendou-lhe que procurasse entrar em contato com o navio pelo telégrafo luminoso.
Pouco depois, Stone entregou o seu binóculo ao aprendiz Gibson, dizendo:
_ Observe o navio agora. Está muito esquisito.
Gibson olhou o navio atentamente. Parecia estar adernando e tinha, como ele disse “uma grande parte fora da água”. Stone notou que a luz vermelha lateral havia desaparecido.
A posição do Titanic estava realmente esquisita. O mar já batia acima do convés C na proa, marulhando em torno dos guindastes e das escotilhas, lambendo a base da superestrutura. Adernava acentuadamente para bombordo.
À 1h 40 min mais ou menos, o Oficial Chefe Wilde gritou:
_ Todo mundo a estibordo para equilibrar o navio!
Os passageiros e a tripulação concordaram e o Titanic virou-se lentamente de novo em posição de equilíbrio. O trabalho de salvamento nos botes foi reiniciado.
Não havia mais dificuldade em convencer as pessoas a abandonarem o navio. Um passageiro da terceira classe pulou dentro de um barco que se balançava, juntamente com vários outros homens. Quase todos foram retirados à força, mas o primeiro escondeu-se ali, coberto por um xale de mulher. Disse ele depois que foi a Srª Astor que o cobriu com o xale.Em outro ponto, uma onda de homens tentou assaltar o bote Nº 14, mas o marinheiro Joseph Scarrott os rechaçou com a cana do leme. O Quinto Oficial Lowe puxou a pistola e gritou:
_ Se alguém mais tentar isso, levará bala! – e disparou ao longo do navio enquanto o bote Nº 14 descia ao mar.
Enquanto isso, o barco de lona C era ajustado nos turcos e estava sendo carregado. O presidente Bruce Ismay Ajudou a aprontar o bote para ser arriado. Já estava mais calmo e parecia sob todos os aspectos um membro da tripulação do Titanic. Mas, de repente, no último instante, pulou para dentro do bote era mais um passageiro apavorado. Outros se portavam diferentemente. O jornalista William Stead, independente como sempre, estava lendo sozinho no salão de fumar da primeira classe. O bombeiro George Kemish, ao passar, teve a impressão de que ele pretendia ficar ali acontecesse o que acontecesse.
Benjamin Guggenheim dirigiu uma senhora que entrava num bote a seguinte mensagem de despedida:
-Se alguma coisa me acontecer diga a minha mulher que eu fiz tudo o que era possível para cumprir o meu dever.
De fato, Benjamin Guggenheim quase se superou. O seu suéter e o seu salva vidas haviam desaparecido. Ele e o seu criado de quarto estavam impecavelmente vestidos a rigor.
-Vestimo-nos da melhor maneira – explicou ele – e estamos prontos para ir pra o fundo do mar como cavalheiros.
Archibald Gracie e mais uma dezena de outros passageiros de primeira classe trabalhavam juntamente com a tripulação, carregando os últimos botes. Quando ajudaram a Srª Constance Willard, sorriram e disseram-lhe que tivesse sorte e coragem. Ela notou que as suas frontes mostravam grandes riscos de suor. Só restavam alguns botes. Os barcos de lona A e B estavam amarrados no alojamento dos oficiais e os homens estavam encontrando grande dificuldade em tirá-los de lá. Contudo, o barco D já fora ajustado nos turcos e estava pronto para ser carregado. Não havia tempo a perder. As luzes começavam a ficar vermelhas. Ouvia-se ao longe em baixo o barulho de louça que se quebrava.
Lightoller não facilitou: 47 lugares – 1.600 pessoas. Mandou os marinheiros fazerem com os braços um amplo círculo em torno do bote, deixando as mulheres passarem.
O Coronel Gracie apareceu apressadamente com a Srª Murray Brown e a Srª Edith Evans. Chegaram ao bote D quando este estava começando a descer. Edith Evans se voltou para a Srª Brown e disse:
- A senhora primeiro, que tem filhos que a esperam em casa.

Ajudou prontamente a Srª Brown a transpor a amurada. Nesse momento, alguém gritou que baixassem e às 2h 5 min o bote D – o último bote que foi lançado ao mar – começou a descer. Evans ainda estava no convés.


Depois que os botes se foram uma estranha calma caiu sobre o Titanic. As centenas de pessoas que haviam ficado conservavam-se calmamente nos conveses superiores, afastando-se da amurada. Jack Thayer, olhando para um par de turcos vazio, pensava em todas as alegrias que tivera na vida.
Pensava no pai, na mãe, nas irmãs, no irmão. Sentia-se longe, como se estivesse vendo tudo de algum lugar remoto.
Às 2h 5 min o Comandante Smith entrou pela última vez na cabine de rádio e disse:
-Senhores, já cumpriram plenamente o seu dever. Cuidem agora de salvar-se. Eu os dispenso.
Depois se dirigiu ao convés dos botes e disse a tripulação:
-Muito bem, rapazes. Salve-se quem puder.
Alguns dos marinheiros seguiram literalmente as palavras do Comandante Smith, jogaram-se ao mar e foram recolhidos pelos botes. Mas a maior parte conservou-se a bordo. Espalhados pelo convés dos botes, cerca de 15 serventes da primeira classe estavam indolentemente à vontade. Pareciam contentes com o fato de ninguém se incomodar mais que eles fumassem. Perto da entrada para a Grande Escadaria, a orquestra com coletes salva vidas por cima dos sobretudos, continuava a tocar.
No interior do navio, o pesado silêncio das salas vazias era um drama em si mesmo. Os lustres de cristal do restaurante estavam inclinados num ângulo impossível, mas ainda brilhavam firmemente, iluminando os lambris de nogueira e os tapetes róseos. O Lounge, em estilo Luis XV, com sua enorme lareira, estava silencioso e deserto. O Palm Court também estava deserto. Era difícil acreditar que apenas quatro horas antes estivesse cheio de senhoras e cavalheiros elegantemente vestidos a escutar música. O salão de fumar, porém, não estava completamente deserto. Quando um comissário espiou para dentro às 2h 10 min, ficou surpreso de ver Thomas Andrews ali sozinho. O salva-vidas de Andrews estava jogado em cima de uma mesa de jogo. O homem tinha os braços cruzados sobre o peito e um ar de atordoamento. Quando o comissário perguntou:
-Não vai tentar salvar-se, Sr. Andrews? – não houve resposta e nem sequer um sinal de que ele ouvira.
Nos conveses, a multidão esperava. Alguns rezavam em companhia do passageiro reverendo Thomas Byles. Outros pareciam perdidos em seus próprios pensamentos. Havia muito em que se pensar.
Para o Comandante Smith, havia os cinco avisos sobre gelo recebidos de outros navios durante o dia. O último dissera exatamente onde deveria se localizar o iceberg. Havia ainda o termômetro que caíra 6 graus acima de zero às 7 horas para zero grau às 10h 30 min. O radiotelegrafista poderia refletir quanto ao sexto aviso sobre o gelo, quando o Californian havia interferido e Phillips o mandara calar-se. Esse último aviso nem chegara á ponte de comando. Numa ocasião como aquela havia também pequenas coisas que podiam atormentar uma pessoa. Edith Evans lembrava-se de um adivinho que lhe recomendara “cuidado com a água”. Charles Hayes lembrava-se. De que, poucas horas antes, profetizara para breve “a maior e mais pavorosa das catástrofes marítimas”.
Em cima do alojamento dos oficiais alguns homens procuravam desesperadamente livrar os botes de lona A e B. No lado de bombordo, conseguiram empurrar o bote B até a beira do teto e faze-lo deslizar sobre alguns remos até o convés, onde ele caiu emborcado. O bote A também estava dando trabalho. Alguém meteu algumas tábuas contra a parede e afinal o bote ficou solto e foi descendo de proa.
Mas o Titanic estava tão adernado que não conseguiram empurra-lo para cima até a beira do convés.
Quando o comissário Edward Brown se esforçava para levar o bote A até a borda do convés, percebeu de súbito que já não era preciso. O bote estava flutuando. Brown pulou dentro, cortou as amarras e o bote foi imediatamente arrastado para o mar.
De cima do alojamento dos oficiais, Lightoller viu a onda viu a onda varrer a proa. Viu gente recuando ante ela. Os mais ágeis conseguiam livrar-se, os mais lentos eram alcançados e envolvidos.

Sabendo que a fuga só serviria para prolongar a agonia, Lightoller voltou-se para a proa e mergulhou. Durante um terrível minuto, ficou comprimido de encontro à abertura de um ventilador, pelo qual se derramava a água. Depois uma lufada de ar quente o arrojou à superfície. Ofegante e a cuspir água, afastou-se a nado.
Harold Bride também não perdeu a calma. Quando a onda passou, ele agarrou a borda do bote B e juntamente com uma dezena de pessoas foi arrastado com o bote.
No turbilhão de cordas, equipamento náutico e águas em torvelinho ninguém sabia do que acontecera à maior parte dos outros. Podiam ser vistos dos botes, agarrando-se como enxames de abelhas às estruturas dos tombadilhos, aos guinchos, aos ventiladores. Mas de perto era difícil ver o que estava acontecendo, muito embora, por mais incrível que fosse, as luzes ainda estivessem acesas, lançando um clarão mortiço.
Ninguém sabe o que aconteceu ao Capitão Smith. Mais tarde se disse que ele se suicidara, mas não há a menor prova disso. Pouco antes do fim, o comissário Brown viu-o encaminhar-se para a ponte, ainda empunhando o megafone. Depois que o Titanic afundou, o foguista Harry Sênior o viu sobre a água segurando uma criança.
A inclinação aumentou e a chaminé de vante caiu, batendo na água com uma chuva de fagulhas.
O Titanic estava agora em posição absolutamente perpendicular. Da terceira chaminé para a popa o navio se elevava no ar, com as três hélices brilhando.
Vistos e não vistos, pessoas famosas e gente desconhecida rolaram num montão quando a popa elevou mais. Os acordes do hino episcopal “Outono” foram sepultados numa pilha de músicos e instrumentos.
As luzes se apagaram, brilharam de novo e cessaram de vez. Uma única lâmpada de querosene ainda bruxuleava do mastro de ré. Um barulho surdo reboava através da água, enquanto tudo se quebrava e desprendia. Nunca houve uma mistura como aquela – 29 caldeiras... 800 caixas de nozes descascadas... Grandes correntes de âncora ( cada elo pesava quase 80 quilos )... 15.000 garrafas de cerveja... Enxoval de Eleanor Widener... A caixa de metal do Major Arthur Peuchen... Dezenas de palmeiras em vasos... Cinco pianos de cauda.Os que estavam nos botes mal podiam acreditar no que viam. Durante duas horas tinham visto, ainda animados por uma esperança que resistia à lógica, o Titanic afundar cada vez mais. Quando a água atingiu os sinalizadores vermelho e verde, convenceram de que o fim não tardava. Mas ninguém sonhava que seriam assim – o fantástico rumor, o casco negro num ângulo de 90 graus, as estrelas brilhando ao fundo como numa paisagem de cartão de Natal.
Dois minutos se passaram. O rumor cessou e o Titanic desceu um pouco do lado da popa. Começou a afundar pouco a pouco, numa inclinação aguda.
De repente, pareceu ganhar velocidade. Por fim, o mar se fechou sobre o mastro da bandeira da popa.

Nos botes, as mulheres se quedavam aturdidas e silenciosas. No bote Nº 5, o Terceiro Oficial Pitman olhou o relógio e anunciou:
-São 2h 20 min

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